Persistência

Namorei estas fotos durante muito tempo. Acontecia sempre alguma coisa que não me permitia fotografar este momento único. Ou eu chegava antes, ou depois, e não encontrava ele com sua rede no fim da tarde, no por do Sol. Foi assim durante meses se não anos…

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Nunca tirei da cabeça a imagem primária que tive quando o observei desde o calçadão, nem me lembro exatamente quando. Mas sim tive a certeza absoluta, o “insight” que a luz do entardecer, o movimento da rede e do mar e a figura dariam uma bela imagem.

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Por essa composição o primeiro que veio a mim foi a figura de Paulo Freire. Tal vez por isso de “não se deve dar o peixe e sim ensinar a pescar”. E além de concordar, Paulo Freire foi um dos brasileiros que me encantaram ainda em tempos de faculdade. Por isso, de certa forma, humildemente, eis aqui a minha homenagem a ele, e aos milhões que batalham todo dia duramente para levar um peixe à mesa e por tentar uma sociedade mais digna, mais justa e com educação.

Do baú das lembranças

Dedicado a Jorge Roberto Beremblum, meu pai

Corria 1991 e estava cursando meu primeiro ano de Cinema. Em Direção, tinha como professor Jorge Polaco, que uma aula perguntou “Qual era, no critério de cada um, um clássico do cinema?”.

Dos meus novíssimos 20 anos e influenciado pelo rock´n roll, não hesitei e respondi que para mim era “Pink Floyd – The Wall” de Alan Parker. Fui secamente execrado. Aquilo era um filme de moda, passageiro. Só pelo sucesso das músicas mas, como filme, não podia ser considerado um clássico.

Outros alunos mais experientes, veteranos mencionaram verdadeiras relíquias da sétima arte. Nunca esqueci aquele comentário do diretor argentino que, acreditava que filme de arte, era aquele que viam poucos.

Passaram-se duas décadas. O álbum todo de Pink Floyd está sendo relançado, suas músicas cultuadas e ouvidas pelo mundo todo e Roger Waters, líder da banda e mentor do disco, se apresentará este mês no Brasil com o show encenando a história mundialmente conhecida graças ao filme de 1982.

Talvez, Jorge Polaco nunca tenha assistido o filme. Pois a temática ainda é vigente. Intolerância, guerras, ultra-direita, Grã-Bretanha e sua “superioridade”, entre os temas mais abrangentes e o amor, a decepção e a dor no íntimo de cada sujeito.

Nunca esquecerei que, ainda criança, vi meu pai voltar de assistir no cinema em plena ditadura militar esse filme e enlouquecer. Foi comprar a fita casette na mesma hora para ouvirmos a música… e olha que ele estava longe de ser amante do rock.

O tempo lava e leva tudo, mas também dá perspectivas. Confesso que fiquei meio triste por “desapontar” meu professor no meu primeiro ano de cinema. Fiquei abalado. Hoje, vinte e um anos depois, poderei ver esse grandíssimo trabalho artístico ao vivo. Tomara que Polaco tenha a mesma sorte.